Resumo: Texto e atividade sobre as causas que levaram ao fim da União Soviética (URSS) e da Guerra Fria. A atividade envolve análise de documentos de época, mobilizando uma atitude historiadora dos estudantes. Pronto para imprimir, aplicar em sala e estudar diretamente.
Habilidades: (EF09HI28) Identificar e analisar aspectos da Guerra Fria, seus principais conflitos e as tensões geopolíticas no interior dos blocos liderados por soviéticos e estadunidenses.
A crise da União Soviética e o Fim da Guerra Fria
1. Introdução
Após a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética (URSS) disputou com os Estados Unidos (EUA) a posição de maior potência mundial.
Tanto os soviéticos como os americanos competiam em várias atividades, como o avanço tecnológico, a corrida espacial, o desenvolvimento armamentista e até mesmo o número de medalhas nos jogos olímpicos.
E, apesar de feitos notáveis, como o lançamento do primeiro satélite no espaço, a invenção dos primeiros telefones móveis e a criação do maior arsenal nuclear do planeta, a União Soviética não existe mais. O que teria acontecido com essa potência mundial?
Há quatro principais motivos que explicam a crise e o fim da União Soviética: as despesas exageradas e incompatíveis com armamentos e exército; a ineficiência da economia soviética nos anos 80; o crescimento do nacionalismo interno nas minorias; a corrupção e os privilégios políticos. Veremos agora cada um destes elementos.
2. Gastos Militares Excessivos
Um dos principais elementos da Guerra Fria foi a corrida armamentista. Tanto os Estados Unidos como a União Soviética dedicaram boa parte de sua economia para a criação de novas armas e de um arsenal cada vez mais potente.
O desenvolvimento da capacidade militar foi tamanho, que se considera que as armas nucleares de ambos os países eram suficientes para destruir a humanidade inteira. Preocupados com essa possibilidade, os cientistas da época criaram o “Relógio do Fim do Mundo”, uma espécie de painel que avaliava em tempo real o risco de a guerra nucelar começar e causar o fim da humanidade.
Assim, a manutenção de tantas armas, soldados, cientistas e atividades militares custava boa parte da renda e da receita desses países. No entanto, especialmente na década de 1980, os líderes soviéticos não conseguiram equilibrar as finanças internas com os custos desse arsenal enorme, agravando a crise econômica interna.
Para piorar, nessa época, algumas ações militares da União Soviética também foram muito custosas, como a invasão fracassada ao Afeganistão e os constantes apoios militares a seus aliados no Leste Europeu.
3. O desgaste econômico
Na década de 1980, a economia soviética já não ia bem. Apesar de ter aumentado sua participação no comércio internacional com a exportação de petróleo, essa riqueza não chegava na vida da população comum.
Afinal, a prioridade de gastos do regime soviético estava no campo militar e diplomático. Boa parte da indústria e da tecnologia estava voltada para a produção e para o desenvolvimento militar/armamentista, como visto, reduzindo o número de trabalhadores e matérias-primas dedicados à produção de bens de consumo (itens de consumo do dia a dia da população).
Assim, começavam a faltar produtos para a população soviética. Longas filas se formavam para que as pessoas conseguissem adquirir o básico para seu dia a dia. Por outro lado, nos países capitalistas, a propaganda de mercadorias como televisores, rádios, linhas telefônicas, produtos de luxo e bebidas livremente ecoavam na população soviética que questionava cada vez mais seu regime.
A crise da economia soviética refletia em seus aliados, que também passavam por situações delicadas. Como resultado, movimentos críticos ao domínio soviético e ao modelo socialista estouravam na Europa, em países como a Alemanha Oriental e a Checoslováquia.
Como reação, os soviéticos invadiam e impunham à força o seu controle. Isso tinha um claro custo político, já que a violência e o recrudescimento somente faziam a impopularidade do socialismo soviético crescer mais e mais.
4. O fortalecimento do Nacionalismo
De longe, a União Soviética era o maior país do mundo em área total. Além da atual Rússia, a Ucrânia, o Cazaquistão, a Geórgia, a Bielorrússia e vários outros países contemporâneos faziam parte do estado soviético.
Controlar um território tão grande e com tantas etnias variadas era um enorme desafio. Afinal, havia populações com línguas, tradições, religiões e histórias distintas da Rússia, e isso despertava um sentimento nacionalista em minorias internas.
O modelo autoritário da União Soviética piorava a situação, afinal, reprimia movimentos que defendiam a independência de territórios internos e censurava suas manifestações públicas.
Assim, quando começou a crise econômica da década de 1980, tudo piorou. A insatisfação econômica ligou-se à rejeição ao domínio russo e ao desejo de independência nacional.
Os líderes soviéticos até que tentaram controlar a situação, mas não foi suficiente.
5. A corrupção e privilégios
Com o passar das décadas, a população trabalhadora começou a criticar a formação de uma burocracia privilegiada nos países que adotavam o modelo socialista.
Na prática, quem pertencia ao partido ou ao governo, ou que tinha conhecidos nessas posições, acabava obtendo privilégios diante do restante da população.
Isso poderia significar mais facilidade para conseguir permissões para viajar, acesso a empregos mais prestigiados ou mesmo em forma de mantimentos adicionais para o indivíduo e sua família.
Na época, especialmente nos anos de 1980, como os regimes socialistas buscavam atender às necessidades básicas de todos, a população inteira recebia cupons para retirar gratuitamente alimentos e outros itens de primeira necessidade.
Porém, essa elite privilegiada tinha acesso a uma quantia maior desses mantimentos, além de mais dinheiro para comprar itens de luxo, inacessíveis à maioria da população. Essa desigualdade gerava incômodos e questionamentos, ainda mais em países que alegavam construir uma sociedade mais igualitária.
6. As tentativas de recuperação Soviética
Diante da crise econômica, da impopularidade do regime e do crescimento dos movimentos nacionalistas, em 1985, Mikhail Gorbachev assumiu o controle da União Soviética. Ele propunha reformas estruturais no país, buscando readequá-lo diante do atraso econômico e da rejeição de sua população.
Para tal, propôs duas medidas centrais: a glasnost e a perestroika. A Glasnost consistia em reformas no campo político, que buscava dialogar com a insatisfação popular quanto à dureza do regime. Por esse plano, Gorbachev reduziu a censura, diminuiu a repressão aos movimentos críticos ao governo, libertou presos políticos e declarou o estado neutro, aumentando a liberdade religiosa da população.
Já a Perestroika abrangia medidas de ordem econômica. Ela propunha uma redução no orçamento militar, a possibilidade de existir pequenas propriedades privadas, abertura dos monopólios estatais à concorrência e permissão de abertura de empresas estrangeiras no país. Essas práticas buscavam cortar gastos, captar investimentos estrangeiros para o país e elevar a produtividade interna, o que permitiria maior oferecimentos de produtos para a população.
No entanto, essas medidas não foram suficientes. A Glasnost teve ampla popularidade e conseguiu repercutir positivamente entre a população. Entretanto, a Perestroika foi insuficiente, gerando até um efeito contrário. Afinal, não conseguiu resolver o profundo atraso e a diferença entre a economia soviética e as potências capitalistas. Para piorar, dividiu o país, com setores conservadores desejando a derrubada de Gorbachev e a adoção e um político mais tradicional.
7. O fim da União Soviética e da Guerra Fria
Diante dessa crise avançada, a União Soviética não persistiu. Junto com seu fim, veio o encerramento da Guerra Fria e da experiência socialista de muitos de seus aliados.
Em 1989, por exemplo, a Alemanha Oriental não conseguiu conter os ânimos populares e deixou de existir. A população sofria de problemas similares aos soviéticos, como o atraso econômico e a opressão autoritária do governo. Assim, a maioria dos alemães do leste desejavam a reunificação do país, adotando o modelo capitalista. Foi o ocorrido em novembro de 1989, na chamada Queda do Muro de Berlim.
De forma similar, o regime socialista também caía na Hungria, na Romênia e na Polônia.
Internamente, os movimentos nacionalistas aproveitavam a crise e conquistavam sua separação da União Soviética. Em 1991, 12 antigas repúblicas que pertenciam à URSS declaram independência e formam a CEI (Comunidade dos Estados Independentes).
Já muito desgastada e enfraquecida, em 1991, Mikhail Gorbachev declarou publicamente a dissolução da União Soviética, num dos eventos geopolíticos de maior importância de todo o século XX.
Atividade - O fim da URSS
1. Cite quais foram os quatro principais motivos que causaram à crise da União Soviética e explique dois deles.
2. O que foi a Glasnost?
3. O que foi a Perestroika?
4. A Glasnost e a Perestroika tiveram sucesso? Explique.
5. Observe a imagem abaixo. Ela retrata a quantia mensal que um cidadão polonês recebia do governo em meados de 1980. Caso a pessoa quisesse mais produtos ou trocá-la, precisaria trocá-la em mercados paralelos. Sobre ela, responda:
a) Qual a relação dessa imagem com a crise do socialismo no século XX?
b) Em sua opinião, as quantias fornecidas são suficientes para uma pessoa?
6. Os fragmentos abaixo são relatos de duas cidadãs russas coletados entre 1991 e 2001, na qual elas comentam as impressões e memórias dela sobre o fim da União Soviética. Leia os relatos e responda ao que se pede.
Relato #1:
A era de Gorbachev… Multidões com rostos esperançosos. Liberdade! Era o ar que respirávamos. Todos devoravam os jornais com entusiasmo. Era um tempo de grande esperança — a qualquer momento, poderíamos encontrar o paraíso. Democracia era algo exótico. Corríamos como loucos para cada comício: agora aprenderíamos a verdade sobre Stalin, o gulag. Leríamos livros proibidos e nos tornaríamos democratas. Como estávamos errados! Uma mensagem ecoava de todos os alto-falantes: Rápido! Rápido! Leia! Ouça! Nem todos estavam preparados para isso. A maioria das pessoas não era antissoviética; só queriam viver bem. Queriam jeans, videocassetes, e, acima de tudo, carros. Roupas bonitas e boa comida. Quando cheguei em casa com uma cópia de “O Arquipélago Gulag” (livro que revelava as violências cometidas pelo governo), minha mãe ficou horrorizada. “Se você não tirar esse livro de casa imediatamente, eu te expulso” (…) A Perestroika não foi criada pelo povo, foi criada por uma única pessoa: Gorbachev e um punhado de intelectuais…”
Relato #2:
Gorbachev é um agente secreto americano… um maçom… Ele traiu o comunismo. (…) Eu odeio Gorbachev porque ele roubou minha Pátria. Eu guardo meu passaporte soviético como minha posse mais preciosa. Sim, ficávamos na fila por frango descolorido e batatas podres, mas era nossa Pátria. Eu amava isso. O Ocidente sempre viu a Rússia como inimiga, uma ameaça constante. Ninguém quer uma Rússia forte, com ou sem comunistas. O mundo nos vê como um armazém que podem saquear por petróleo, gás natural, madeira e metais básicos. (…) Costumávamos ser uma civilização sem trapos e lixo. A civilização soviética (…) Felicidade está aqui, né? Claro, temos salame e bananas. Estamos rolando na sujeira e comendo comida estrangeira. Em vez de uma Pátria, vivemos em um grande supermercado. Se isso é liberdade, não preciso dela. Para o inferno com isso! As pessoas estão de joelhos. Somos uma nação de escravos. Sob o comunismo, nas palavras de Lenin, o cozinheiro governava o estado; trabalhadores, leiteiras e tecelões estavam no comando. Agora, nosso parlamento está cheio de criminosos. Milionários cheios de dólares. Eles deveriam estar todos na prisão, não no parlamento. Eles realmente nos enganaram com a perestroika!”
Extraídos do livro de Svetlana Alexievich, “Secondhand Time: The Last of Soviets”.
a) Qual era a esperança inicial das pessoas com a chegada de Gorbachev e suas reformas?
b) Considerando os relatos sobre a Glasnost e a Perestroika, como você avalia o impacto dessas reformas na sociedade soviética? Elas trouxeram mais benefícios ou problemas? Justifique sua resposta com base no texto.
c) É possível afirmar que a Queda da União Soviética concretizou a esperança da população? Explique.
Baixe os exercícios sobre o Fim da URSS em PDF ou Word editável nos botões do começo da página. 🙂
1. Os quatro principais motivos que causaram a crise da União Soviética foram os gastos militares excessivos, o desgaste econômico, o fortalecimento do nacionalismo e a corrupção e privilégios. Os gastos militares excessivos foram um grande fator, pois, durante a Guerra Fria, a URSS dedicou uma grande parte de sua economia à criação de novas armas e à manutenção de um arsenal nuclear, gerando um grande desequilíbrio financeiro, especialmente na década de 1980. A participação em ações militares, como a invasão do Afeganistão, também aumentou significativamente os custos. Já a corrupção e os privilégios formaram uma burocracia privilegiada, o que gerou críticas da população trabalhadora. Quem pertencia ao partido ou ao governo tinha acesso a mais recursos e oportunidades, criando uma desigualdade que corroía a confiança no regime socialista.
2. A Glasnost foi uma política de abertura política introduzida por Mikhail Gorbachev, que visava aumentar a transparência do governo soviético, reduzir a censura, diminuir a repressão a movimentos críticos, libertar presos políticos e aumentar a liberdade religiosa da população.
3. A Perestroika foi um conjunto de reformas econômicas propostas para solucionar a crise econômica, que buscavam reduzir o orçamento militar, permitir a existência de pequenas propriedades privadas, abrir monopólios estatais à concorrência e permitir a entrada de empresas estrangeiras, com o objetivo de modernizar a economia soviética e aumentar a produtividade interna.
4. A Glasnost teve ampla popularidade e conseguiu repercutir positivamente entre a população, promovendo maior liberdade e transparência. No entanto, a Perestroika foi insuficiente, pois não conseguiu resolver o atraso econômico da URSS e até gerou divisão interna, com setores conservadores se opondo a Gorbachev.
5. a) A imagem mostra uma cidadã polonesa com sua porção de alimento cedida pelo governo. Ela ilustra a rigidez da economia socialista da época e a possível insatisfação com a quantia dos produtos oferecidos, especialmente se contrastada com as propagandas capitalistas do mundo ocidental, que exaltavam o consumismo e a abundância de seus mercados.
b) Resposta pessoal. Embora hoje em dia essa quantia possa parecer insuficiente para uma pessoa acostumada ao modelo capitalista, é importante reconhecer que a alimentação ilustrada está acima das condições de muitos excluídos e miseráveis no mundo atual. Apesar de a era atual transmitir uma sensação de abundância alimentar, a população mais pobre tem dificuldade em acessar frutas, legumes e carnes frescas, itens de maior valor nutricional que exigem mais tempo para preparo. Assim, essas pessoas acabam consumindo mercadorias ultraprocessadas, o que promove uma séria desigualdade nutricional e pode levar a problemas de saúde no futuro. Essa reflexão pode ser incluída na discussão proposta por este exercício.
6. a. As pessoas esperavam que Gorbachev e suas reformas trouxessem mais liberdade, transparência e melhorias econômicas. Elas acreditavam que a democracia traria uma era de esperança e prosperidade, permitindo acesso a informações antes censuradas e uma maior abertura para novas ideias e produtos.
b. As reformas trouxeram tanto benefícios quanto problemas. A Glasnost trouxe benefícios ao promover mais liberdade e reduzir a censura, criando um ambiente mais aberto e transparente. No entanto, a Perestroika trouxe insatisfação, pois não conseguiu resolver os atrasos estruturais da economia soviética. Além disso, esses planos eram controversos na sociedade soviética e gerava discussões acaloradas. Isso é visível no trecho sobre o “Arquipélago Gulag” do primeiro texto ou no rancor do segundo relato sobre as reformas de Gorbachev.
c. Não, a queda da União Soviética não concretizou a esperança da população como esperado. Embora tenha havido uma maior liberdade e abertura política, as promessas econômicas da Perestroika não se concretizaram, levando a dificuldades econômicas e sociais. Muitos sentiram que a transição para um novo sistema trouxe mais problemas do que soluções, resultando em uma sensação de desilusão e perda em vez da prosperidade esperada.