Materiais de História

Atividade – Analisando dois raps indígenas para discutir história, diversidade e resistência

Resumo: Atividade de análise de dois raps feitos por artistas indígenas. Trata-se de um material muito rico para expandir o conhecimento dos estudantes sobre os povos indígenas e provocar reflexões aprofundadas sobre a história, identidade e demandas contemporâneas dos povos originários no Brasil.

(Obs: Esta atividade foi inspirada em documentos fornecidos pela ONHB em edições anteriores.)

Habilidades: EF08HI14, EF09HI21, EF09HI26, EM13CHS101, EM13CHS601

Música 1: Owerá - "Xondaro Ka'aguy Reguá"

Cena do videoclipe Xondaro Ka'aguy Reguá
https://www.youtube.com/watch?v=cT7ZXxAMetY

A primeira música é de Orewá, Owerá, um artista indígena do povo Guarani Mbyá, reconhecido como escritor de Literatura Nativa e como cantor de RAP Nativo e músicas sagradas.

Conforme declarado pelo próprio artista, sua “grande bandeira (…) é usar a música para lutar pelo respeito aos povos originários e pela demarcação das terras, além de transmitir mensagens de apoio à sua comunidade.”

Nesta atividade, propomos a análise da música “Xondaro Ka’aguy Reguá”. Ela possui uma linguagem acessível e é adequada tanto para os Anos Finais como para o Ensino Médio.

Para sua aplicação, sugerimos que você distribua uma cópia da letra juntamente com os exercícios propostos aos alunos e, em seguida, apresente a música, solicitando que prestem atenção à letra. Ao término do vídeo, você pode questionar o que acharam da música e da letra, estimulando o debate com perguntas como “o que chamou a atenção de vocês?” e “vocês acham que o fato de um indígena fazer rap o torna menos indígena?”.

Esta música, além de ser muito cativante, é eficaz em promover uma sensação de proximidade entre os estudantes e os indígenas, quebrando estereótipos e a noção estática de que os indígenas são algo distante do mundo e do repertório cultural dos alunos. Vale a pena investir nesta atividade!

Sugestão de exercícios

1. O que você achou da música e do clipe? Gostou? Já tinha ouvido falar?

2. Qual o tema da letra da música?

3. Quais estereótipos sobre os povos indígenas são desafiados ou criticados na música? Cite passagens da letra para justificar sua resposta.

4. Como a música descreve a relação histórica entre indígenas e brancos? E a resistência indígena?

5. Pesquise o que significa demarcação de terras indígenas e justifique porque elas são muito importantes para esses povos.

6. Em sua opinião, qual é o papel da arte na resistência e na preservação da cultura indígena?

1. Resposta pessoal.

2. O tema da letra da música é a resistência e a luta dos povos indígenas, especialmente dos Guarani, contra a opressão, a colonização e a destruição ambiental, enquanto afirmam sua identidade, cultura e liberdade e lutam por dignidade, reconhecimento e também a demarcação de suas terras.

3. A música desafia estereótipos sobre os povos indígenas logo ao adotar o estilo musical do rap, uma forma de expressão artística muitas vezes associada a culturas urbanas contemporâneas. Assim, o músico Orewá combate a noção limitada de que a cultura indígena não pode incorporar ou se apropriar de estilos artísticos e comportamentos criados pelos “não-indígenas”, promovendo uma visão mais inclusiva e contemporânea da identidade indígena. Além disso, ao valorizar uma história de resistência e luta que perdura há mais de 500 anos, a música critica a visão eurocêntrica que desvaloriza o conhecimento e a tecnologia indígenas, enquanto desafia a ideia de que os indígenas são primitivos, passivos ou atrasados, destacando sua agência e capacidade de enfrentar adversidades históricas e contemporâneas. Tais pontos ficam explícitos em trechos como: E pra você sou eu que estou errado por usar internet / e não andar pelado, isolado / Pensamento colonial retrógrado e limitado / pois pra mim ser indígena é me sentir e ser livre…

4. A música descreve a relação histórica entre indígenas e brancos como marcada pela violência, opressão e destruição, porém sempre contraposta com a combatividade e resistência dos povos indígenas. Em resumo, ela aponta que os indígenas foram oprimidos e dizimados desde a chegada dos colonizadores portugueses em 1500, que desrespeitaram sua cultura e destruíram suas florestas. A resistência indígena é ressaltada como uma resposta a essa violência e como um meio de preservar sua identidade e território.

5. Prevista pela Constituição, a demarcação de terras indígenas é o processo pelo qual áreas de terra são oficialmente designadas para o uso exclusivo dos povos indígenas que as habitam. A demarcação garante-lhes autonomia, preservação cultural e ambiental, bem como proteção contra invasões e exploração. Além disso, essas terras são importantes para os povos indígenas porque representam não apenas seu lar ancestral, mas também são fundamentais para a preservação de sua cultura, tradições, modos de vida e conexão espiritual com a terra.

5. A música menciona que o autor utiliza a arte como meio de resistência indígena e fortalecimento de sua própria identidade, através da qual ele rimava em sua própria língua para denunciar e lutar pela demarcação de terras. Ou seja, a arte é uma forma poderosa de expressar identidade, resistência e reivindicação territorial, além de ser uma ferramenta para transmitir conhecimentos tradicionais, preservar línguas e fortalecer os laços comunitários.

Música 2: Souto MC - Retorno

Atividade para estudar a história indígena. Música da Souto MC.
https://www.youtube.com/watch?v=eqAzP96ZMSo

A música “Retorno”, da Souto MC, é outra obra excelente para refletir junto com os alunos sobre os indígenas e suas trajetórias no mundo contemporâneo. Normalmente, utilizava esta música para trabalhos no Ensino Médio, embora também possa ser adaptada e discutida nos Anos Finais.

Souto MC é uma artista descendente dos Cariris, povo originário da região do Ceará. Nascida em São Paulo, ela cresceu em Itaquaquecetuba, na região metropolitana da capital paulista.

Em sua obra “Ressurreição”, a rapper narra artisticamente o processo de reconexão não apenas com suas tradições e saberes cariris, mas também busca aprender com outras comunidades indígenas.

A vida da rapper e sua música tratam de um tema bastante interessante por ser muito estigmatizado no senso comum: os indígenas urbanos e/ou aqueles que adotam práticas ou comportamentos considerados “não-indígenas”.

Através da poderosa música de Souto MC e de sua trajetória de vida, é possível desconstruir essa ideia distorcida de que indígenas “são aqueles da floresta e que não usam celular”. Ou seja, um ótimo ponto de partida para pensar o significado de ser indígena, que transcende muito além do local de residência e/ou de usar internet ou compor um estilo de música produzido.

Aqui estão algumas sugestões de exercícios para instigar os debates propostos:

1. O que você achou da música e do clipe? Gostou? Já tinha ouvido falar?

2. Como a relação histórica entre brancos e indígenas é retratada na música? Cite dois trechos da música como exemplo.

3. Pesquise o significado da palavra “Pindorama” e tente explicar o porquê a artista utilizou em sua música.

4. Após ouvir a música, é possível afirmar que os índios “perdem” sua cultura ao acessar novas tecnologias (como o celular) ou viverem na cidade? Explique seu raciocínio.
Dica: caso tenha dificuldade em responder, leia o texto abaixo.

“Índio com roupa e celular não é mais índio”

Esse equívoco está relacionado à ideia (também errada) de que existe “índio puro” e “índio aculturado” ou pior, “ex-índio”. É tão absurdo quanto pensar que um imigrante japonês perdeu sua ascendência étnica porque substituiu o hashi (pauzinhos) pelo garfo e faca. Da mesma maneira, se você vestir um cocar Kaiapó, isso não o torna um Kaipó, e nem vira um gaúcho se tomar chimarrão.

Cultura não é uma coisa estática, impenetrável e congelada no tempo. A cultura está em constante transformação, se inter-relacionando com o ambiente, as circunstâncias, outras culturas e consigo mesma. Cultura não é algo que se perde, é algo que se transforma constantemente. Nós não falamos mais o português de Machado de Assis. Do final do século XIX para hoje, desapareceram palavras, outras mudaram de significado e surgiram muitas outras.

Não somente a língua, mas também costumes, valores, moda, hábitos alimentares, interesses e até a nossa percepção de tempo e distância são muito diferentes da época de Machado de Assis. Nossa cultura mudou, estamos sempre incorporando elementos de outras culturas e achamos isso natural.

No entanto, muitos se surpreendem quando vêm um índio de jeans e usando um computador achando que ele não é mais “índio de verdade”.

(Trecho extraído e adaptado de: https://ensinarhistoria.com.br/10-erros-comuns-nas-aulas-de-cultura-indigena/)

5. Escolha um trecho da música que tenha chamado sua atenção, explicando a reflexão realizada a partir dela.

1. Resposta pessoal.

2. A música retrata a relação histórica entre brancos e indígenas como uma história de opressão e resistência. Dois trechos que exemplificam isso são: “Territórios originários e não fundiários, herança viva secular” e “eles captura, traz escravatura, e nois é que tem que ser civilizado?”.

3. “Pindorama” é um termo utilizado pelos povos indígenas para se referirem ao Brasil antes da chegada dos colonizadores. A artista o utilizou para evocar um sentimento de retorno às raízes ancestrais e à terra originária.

4. Os índios não perdem sua cultura ao acessar novas tecnologias ou viverem na cidade. A cultura é dinâmica e se transforma constantemente, assim como a língua e os costumes. O uso de novas tecnologias ou viver em ambientes urbanos não os torna menos índios, pois a identidade étnica vai além do vestuário ou das ferramentas utilizadas.

5. Resposta pessoal. Exemplo: O trecho “Não somos só figura pra ser estudado, somos ruptura de colonizados” chamou minha atenção. Ele ressalta a importância de reconhecer os povos indígenas não apenas como objetos de estudo escolar, mas como agentes ativos na luta contra a colonização e na preservação de suas culturas. Isso me fez refletir sobre a necessidade de uma abordagem mais respeitosa e empoderadora em relação aos povos indígenas na sociedade contemporânea.

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