Materiais de História

Sugestões para o primeiro dia de aula – História (Anos Finais e Ensino Médio)

Resumo: Onze dicas sobre o que fazer no seu primeiro dia de aula. Nosso texto foi produzido após a experiência de mais de uma década nossa em sala de aula. Há opções para várias faixas etárias e situações.

Ah, o primeiro dia de aula...

O primeiro dia de aula é sempre um enorme desafio.

Mesmo após dez anos como professor, eu ainda sentia aquela clássica ansiedade antes de entrar numa sala. E, claro, sempre retornava à eterna dúvida do nosso ofício: “o que farei no primeiro dia de aula?”

Passava horas pesquisando dicas, atormentando outros colegas no WhatsApp atrás de sugestões ou tentava lembrar o que deu certo ou não nos outros anos…

Então, como um auxílio para quem está nessa dúvida, decidi publicar este texto.

Basicamente, listamos abaixo algumas sugestões e ideias que deram certo ao longo da nossa jornada como professores. Espero que ajude vocês e, caso tenham sugestões complementares, fiquem à vontade para compartilhar conosco!

1. Comece com sua apresentação

Pode parecer uma dica boba, mas considero-a a mais importante de todas.

Para os alunos, estudar é frequentemente considerado uma atividade maçante e desafiadora. No entanto, se eles conseguem desenvolver um vínculo afetivo com quem ensina, tudo se torna mais fácil.

Além disso, mais do que reforçar a presença afetiva e ativa de sua parte, uma boa apresentação é uma oportunidade para que eles o vejam como uma pessoa comum, como eles, e não apenas como uma autoridade distante.

Lembre-se: a primeira impressão é a que fica. Portanto, é fundamental que façamos uma boa apresentação e compartilhemos nosso lado genuíno e profissional com os estudantes.

Como sugestão de apresentação, mencione seu nome, sua disciplina, um pouco de sua trajetória e de seus interesses pessoais. Compartilhe suas preferências musicais, o time de futebol que você torce (caso tenha), seus programas de TV favoritos, filmes e hobbies que você pratica no tempo livre. Se você joga videogame ou tem um animal de estimação, compartilhe também. E, sempre que possível, tente incluir referências culturais que sejam próximos da realidade dos alunos.

Claro, é importante adaptar sua apresentação à faixa etária dos alunos. Quanto mais jovens forem, mais interessados eles estarão em aspectos triviais de sua vida.

Sugiro que sua apresentação dure cerca de dez ou quinze minutos. Sei que, para alguns, isso pode parecer uma perda de tempo. Mas discordo: acredito que é uma etapa importante para a criação de vínculos, algo fundamental na educação e mesmo na humanização da rotina escolar, que muitas vezes é tão tumultuada e desafiadora…

2. Peça aos alunos que se apresentem.

Essa sempre foi uma das minhas etapas favoritas. Convide os alunos a se apresentarem, e preste atenção no que eles têm a dizer. Sugiro que você coloque na lousa um roteiro de perguntas para ajudá-los na apresentação, algo como:

  1. Nome;
  2. Se é novo(a) na escola ou não;
  3. Se gosta de história;
  4. Por que história é importante?
  5. O que gosta de fazer no tempo livre.

A partir das respostas, você pode estabelecer um diálogo rápido com o(a) aluno(a) e a sala, comentando alguma de suas respostas. Pode ser tanto algo mais descontraído, como também algo mais ligado à história e aos estudos.

Nessa parte, tenho três dicas importantes:

  1. Tente memorizar o nome deles o mais rápido possível. Sei que é difícil, mas conhecê-los é um ato de atenção para com eles, e ajudará você manter a ordem na sala de aula nas semanas seguintes. É sempre mais eficaz direcionar uma “bronca” à pessoa exata que está atrapalhando…
  2. Converse com quem se apresenta, mas não se desligue da sala ao mesmo tempo! Se você focar só em quem se apresenta, a bagunça começará e logo a sala sairá do controle.
  • Respeite o espaço dos(as) tímidos(as). Muitos têm dificuldade de se expor, e forçar a barra logo no começo é um pouco desagradável.

3. Filme “Foutaises” (Ensino Médio - Melhor ainda para turmas que você já conhece!)

Uma atividade bacana que faço também é a exibição do curta-metragem “Foutaises”, dirigido por Jean-Pierre Jeunet – o mesmo diretor do clássico “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”.

Trata-se de um curta leve e divertido, no qual o diretor apresenta atividades do cotidiano que ele ama ou odeia. Cheiros, barulhos, sensações físicas e circunstâncias ordinárias são citados, enquanto cenas ilustrativas acompanham o bem-humorado monólogo. É difícil não se entregar à narrativa!

Ao término do filme, convide os alunos a fazerem uma lista de cinco coisas “banais” que eles amam e cinco que eles odeiam. Entre na brincadeira também e faça sua própria lista.

Por fim, peça aos alunos que compartilhem suas listas lendo em voz alta, aproveitando a oportunidade para conhecê-los ainda melhor!

Você pode assistir ao filme clicando aqui: Foutaises – Jean-Pierre Jeunet

4. Faça um combinado de regras (Anos Finais e Ensino Médio)

Essa é uma escolha clássica de muitos professores.

Alguns colegas juram que é o mapa secreto que leva à conquista da disciplina ao longo do ano. Infelizmente, nunca tive tanto sucesso assim com essa abordagem. Considero sim uma proposta importante, porém, meu resultado foi longe da tão sonhada fórmula mágica para a tranquilidade na sala de aula. Infelizmente, rs.

De qualquer forma, desenvolver essas regras coletivamente é uma opção de início de trabalho com os alunos. Em resumo, você expõe para eles quais comportamentos são intoleráveis em sua aula: ofensas, conversas excessivas, interrupções, grosserias, entre outros.

Ao longo da confecção das regras, tente abrir espaço para que os alunos também participem sugerindo termos do acordo. Ouça comentários e pergunte suas opiniões sobre as regras, se as consideram justas ou não.

No final, você pode confeccionar com os alunos um cartaz expondo as regras combinadas e fixá-la na sala. Assim, poderão consultar as regras do acordo firmado. Essa prática ajuda a manter as expectativas claras e a promover um ambiente de respeito mútuo e colaboração (ao menos em teoria…).

5. Confeccionar uma plaqueta com o nome (Anos Finais).

Aprender o nome dos estudantes é uma tarefa fundamental.

Primeiramente, porque isso lhe proporciona mais recursos para gerenciar a disciplina em sala de aula. Chamar os alunos pelo nome durante uma “bronca” é muito mais eficaz do que uma repreensão genérica para a sala.

Além disso, conhecer o nome dos alunos permite um contato mais humanizado entre você e o estudante. Valoriza a identidade deles e os reconhece como indivíduos únicos entre tantos outros alunos.

Sem mencionar que os alunos tendem a gostar de atividades manuais; fazer e personalizar suas plaquetas pode ser bastante divertido para os sextos e sétimos anos.

Para tal, distribua uma folha para cada estudante. Mostre para eles como dobrá-la em quatro partes iguais e, em seguida, cole as extremidades, formando um triângulo.

A seguir, os alunos devem escrever seus nomes em uma das faces do triângulo e dispor na mesa, como se fosse uma plaqueta com seu nome. Convide-os a enfeitar a parte com nome com pequenos desenhos, coisas que gostam, uso de cores!

Aprendi essa dica da Professora Raquel Funari, durante meus anos de graduação na Unicamp. Foi muito importante em minha própria experiência no sexto ano! Obrigado, Raquel. 😊

Plaquinhas com nome dos alunos. Feitas para uma atividade no primeiro dia de aula.

6. Atividade da Linha do Tempo (Anos Finais)

Caso queira discutir algo mais diretamente ligado à história, você pode abordar a noção de cronologia e linha do tempo.

Você pode começar perguntando aos alunos sobre o que é História e qual é o seu objeto de estudo. Não vai demorar para que alguém mencione algo como “estudar o passado” ou “tempo”, que são os ganchos ideais para introduzir essa atividade.

A partir daí, confirme que a história de fato estuda “os homens no tempo” (Marc Bloch), e acrescente que ela trabalha com uma noção de tempo um pouco mais ampla do que eles estão acostumados.

Para tornar isso mais claro, proponha que eles façam uma pequena linha do tempo com 5 eventos importantes em suas vidas. Para exemplificar, você pode criar sua própria linha do tempo na lousa e aproveitar para se apresentar um pouco. Comece colocando seu nascimento e algumas informações pessoais, ressaltando o ano em que cada um desses eventos ocorreu.

Em seguida, deixe-os montar sua própria linha do tempo. Quando terminarem, você pode pedir a alguns deles para compartilharem as informações que escreveram.

Ao final, para visualizar melhor a diferença entre tempo cronológico e tempo histórico, você pode fazer uma linha do tempo curta da História do mundo, logo abaixo da linha do tempo “pessoal”. Peça aos alunos que sugiram eventos históricos e coloque-os em proporção com a história de vocês e a deles.

Essa diferença de escala de tempo ficará bastante visível, e a partir daí você pode concluir sobre a diferença entre os tempos da história e da vida de uma pessoa!

 7. Conto do Elefante – (Anos Finais - Criado pelo site “Ensinar História Joelza”).

Imagem ilustrativa do "Conto do Elefante".
Imagem ilustrativa do "Conto do Elefante".

O site “Ensinar História Joelza” apresenta uma proposta que considero muito interessante: a leitura do conto do Elefante. É uma leitura bastante agradável e simples de ser feita com alunos do sexto e do sétimo ano.

Em resumo, o texto possibilita a discussão sobre a “verdade” na História e como ela reflete muito o ponto de vista e a opinião daquele que produz os documentos e escreve a história.

Abaixo, incluímos o texto do conto e algumas perguntas para auxiliar na conclusão da discussão, facilitando seu trabalho! 

Texto para atividade no primeiro dia de aula de história. Conto chinês: os cegos e o elefante.
Clique para aumentar. (Conto do budismo chinês. Extraído de DOMINGUES, Joelza Ester. História em Documento. Imagem e texto. São Paulo: FTD, 2012.)

8. Quiz – Preconceito sobre os Continentes

Caso deseje uma apresentação breve ou já conheça a turma em questão, uma ótima maneira de conduzir sua primeira aula é através de um jogo simples, porém muito instigante.

O jogo consiste em um quiz com dez perguntas para os alunos. Cada pergunta apresenta uma imagem de um lugar no mundo e os alunos devem responder: “Em qual continente fica este lugar?” As opções são África, América, Ásia, Europa ou Oceania.

Após os alunos terminarem, você revela as respostas. É provável que grande parte dos alunos erre a maioria das perguntas, já que o jogo é projetado para quebrar os estereótipos existentes sobre os continentes. Nas imagens, são apresentadas cidades africanas “bem desenvolvidas” e cenas de pobreza e miséria em regiões da Europa e da América.

Após o jogo, você pode conduzir uma discussão sobre os estereótipos e preconceitos existentes sobre os diferentes locais e histórias. Pode discutir como isso, além de não corresponder à realidade, contribui para perpetuar a desigualdade e a discriminação existente.

Para complementar a aula de forma ainda mais aprofundada, é possível incluir o vídeo de Chimamanda Ngozi Adichie no TED Talks, no qual ela aborda os “Perigos de uma História Única”.

Essa abordagem não só ajuda os alunos a entenderem a diversidade e a complexidade do mundo em que vivemos, mas também promove a reflexão sobre a importância de questionar e desafiar estereótipos e preconceitos.

9. Texto sobre a História do Futebol.

Escolher um tema apelativo para a maioria dos estudantes sempre é uma boa ideia para engajá-los logo na primeira aula. Atrai a atenção dos alunos, aproxima os estudos dos interesses prévios deles, atiça as paixões de cada um…

Nesse sentido, o futebol é uma excelente oportunidade para estudo e discussão na primeira aula.

No entanto, em vez de abordar apenas a história genérica do esporte, como sua origem e desenvolvimento, podemos explorar uma proposta mais instigante: entrelaçar a história do futebol com a história do racismo e da luta de classes no Brasil. (Essa atividade foi inspirada no livro de História Social “Footballmania”.)

Afinal, ao tratar da relação entre o futebol e questões sociais e políticas, não apenas oferecemos aos alunos um tema “interessante”, mas também uma visão crítica e engajada sobre a história, o esporte e nossa sociedade.

Portanto, embora seja num formato mais formal (texto, discussão e exercícios opcionais), ainda assim essa aula é uma boa opção para seu primeiro contato com uma turma. Dê uma olhada!

10. Quiz de Revisão do Conteúdo do ano anterior.

Caso deseje revisar os conteúdos do último ano em sua primeira aula, uma ótima opção é realizar um jogo rápido com os temas abordados em História.

Para isso, você pode separar os alunos em grupos (duplas, trios ou até grupos de quatro estudantes), desenhar um rápido tabuleiro simples de dez ou quinze casas contínuas na lousa e preparar algumas perguntas e respostas básicas sobre os assuntos estudados.

Em seguida, um grupo de cada vez tira uma pergunta e tenta respondê-la. Se acertarem, eles avançam duas casas no tabuleiro. Se errarem, permanecem no mesmo lugar ou passam a vez para o próximo grupo.

Se você oferecer alguns prêmios (como balas, bombons ou chocolates, por exemplo), o jogo se torna ainda mais dinâmico. A combinação de “jogo”, “prêmio” e “brinde” desperta algo de faminto e voraz nos estudantes, eles se transformam…

Enfim. Recomendo que você adote essa estratégia principalmente para turmas com as quais já trabalhou anteriormente. Assim, você terá uma melhor compreensão do que revisar e do que foi ensinado no ano anterior, adaptando as perguntas de acordo com as necessidades específicas da turma.

11. “Isso sim, Isso não? Que tal?”

Uma ideia interessante para a primeira aula é convidar os alunos a expressarem suas opiniões sobre o que apreciam ou não em uma aula.

No entanto, essa não é apenas uma avaliação das estratégias do professor: é importante que os alunos avaliem a si mesmos, a escola e seus colegas nesse processo.

Essa iniciativa permite que os alunos se sintam protagonistas e participantes ativos das aulas de história, ao mesmo tempo em que fornece subsídios valiosos para você aprimorar suas práticas de ensino de acordo com a realidade da turma.

Embora muitos colegas possam ter reservas em relação a esse tipo de exercício, devido ao desconforto de receber críticas desfavoráveis (especialmente de alunos sem noção!), é importante estar aberto a feedbacks construtivos, sejam eles positivos ou negativos.

Basicamente, você pode pedir aos alunos que respondam a três itens:

  • Isso sim: Neste espaço, os alunos devem indicar o que consideram funcionar melhor em uma aula. Pode ser o uso de slides, exercícios, filmes, seriados, textos, trabalhos práticos, ou mesmo estratégias para manter a ordem na sala de aula. É importante que eles compartilhem também o que funcionou em situações de maior desafio.
  • Isso não: Aqui, os alunos devem comentar sobre estratégias que consideram pouco produtivas, seja do ponto de vista pedagógico, seja em termos de comportamento dos estudantes.
  • Que tal?: Por fim, reserve um espaço para que os alunos possam fazer comentários e sugestões diversas, especialmente sobre práticas que consideram eficazes em outras aulas ou que gostariam de experimentar.

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