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Revolução Inglesa – Resumo – o que foi, antecedentes e principais acontecimentos…

Resumo: Resumo completo sobre Revolução Inglesa, ideal para estudos e para preparação de aula. Aborda tanto os conceitos mais elementares como também fatos mais aprofundados. Foi escrito utilizando livros didáticos e a obra “A Revolução. Inglesa de 1640”, do historiador britânico Christopher Hill.

Introdução

Atualmente, o Reino Unido é uma das principais potências econômicas e políticas globais.

Não surpreende, portanto, que matérias sobre a política britânica ocupe os holofotes dos noticiários com frequência.

Porém, para além da importância geopolítica do país, a política local também atrai a curiosidade devido à notoriedade da família real.

Por exemplo, em 2011, o país repercutiu internacionalmente devido ao casamento do príncipe William e da duquesa Kate e, mais recentemente, devido ao falecimento da rainha Elizabeth.

A família real desempenha um papel central em um sistema de governo estabelecido há quase trezentos anos na Inglaterra, conhecido como Monarquia Parlamentar e Constitucional.

Esse modelo político teve origem no século XVII, como resultado de um episódio conhecido como Revolução Inglesa (1640-1688). Trata-se de um evento histórico fundamental para compreender o fim do absolutismo inglês, o fortalecimento político da burguesia e o avanço das estruturas liberais no país britânico.

Muitos dos aspectos políticos estabelecidos durante a Revolução Inglesa continuam em vigor até os dias atuais, destacando a significância duradoura desse evento histórico.

Família Real Britânica em 2013.

Contexto Histórico

No século XVII, a Inglaterra, assim como vários outros países europeus, estava inserida no contexto do Antigo Regime.

 

2.1. O que é o Antigo Regime?

O Antigo Regime é um conjunto de características difundidas na Europa durante a Idade Moderna. Basicamente, é caracterizado por um modelo político absolutista (concentrado nas mãos do rei), uma organização social estamental e políticas econômicas mercantilistas.

A Revolução Inglesa representou um episódio de crise do Antigo Regime, ou seja, de contestação a aspectos deste sistema.

 

2.2. Absolutismo Inglês no Antigo Regime

Na Inglaterra, o Absolutismo teve início no século XVI com a Dinastia Tudor. A última rainha da dinastia Tudor foi Elizabeth (1533-1603), que se apoiou na nobreza protestante, venceu a Invencível Armada espanhola (1588) e possibilitou um bom desenvolvimento econômico da Inglaterra. No entanto, ela não deixou herdeiros, e com sua morte, quem assumiu foi Jaime Stuart, rei da Escócia. Devido ao parentesco, os reinos foram unidos.

Os antecedentes da Revolução Inglesa

Ao longo dos séculos XV e XVI, a monarquia absolutista tinha interesses em comum com a crescente burguesia da cidade e do campo. Por exemplo, ela garantia alguma estabilidade interna (em contraste com os conflitos característicos do período medieval) e combateu países mercantes rivais dos comerciantes ingleses, como a Espanha.

Nesse período, a monarquia atendia tanto os interesses da burguesia (estabilidade e combate a mercadores rivais) como os da nobreza britânica (privilégios e proteção).

No entanto, por volta de 1590, a burguesia já estava economicamente fortalecida e passou a depender cada vez menos da proteção da monarquia. Pior ainda: graças à sua força econômica, a burguesia passou a ser vista como uma ameaça pelos nobres e pelo rei, enquanto os burgueses identificavam os privilégios da nobreza e os impostos reais como excessos e entraves para seu desenvolvimento.

Por exemplo, os monarcas da dinastia Tudor concediam monopólios comerciais à Companhia das Índias, o que beneficiava a coroa britânica e a nobreza vinculada a ela. Isso sufocava a livre concorrência e prejudicava a pequena e média burguesia. Assim, a Monarquia passou a ser uma aliada incômoda para os burgueses.

Se na França e em países ibéricos ainda havia espaço para a convivência dos dois setores, o mesmo não acontecia na Inglaterra.

3.1. A Dinastia Stuart e a Crise do Absolutismo

De modo geral, a dinastia Stuart ficou caracterizada por uma tentativa de fortalecer o absolutismo no país.

Na prática, buscou alterar práticas políticas britânicas tradicionais, passando longo períodos sem reunir o parlamento, abandonando a busca de consenso entre Rei e Parlamento no Absolutismo britânico.

O que é Parlamento?

O Parlamento é um conselho de representantes políticos da população britânica. É composto de duas câmaras, a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes. O Parlamento foi criado durante o século XIII através da Magna Carta, e tinha como objetivo representar a população e limitar a livre-ação do monarca, sobretudo na criação de impostos.

3.2. O primeiro Rei Stuart – Jaime I (1566-1625):

Jaime era um monarca de origem estrangeira sem uma conexão política ou social sólida com seu novo reino. Seu isolamento afetava o apoio e a popularidade da nova dinastia Stuart.

Entre suas principais ações, fez as pazes com a Espanha, o que ofendeu gravemente os brios nacionalistas dos britânicos.

Também realizou uma perseguição aos puritanos, o que levou à migração para América do Norte. Esta medida buscava centralizar a religião na Inglaterra, fortalecendo a Igreja oficial e o poder do Rei – ainda bastante atrelado à Igreja.

Buscou enfraquecer o Parlamento com poucas consultas à instituição. Por exemplo, entre 1612 e 1622, convocou o Parlamento uma única vez.

Economicamente, foi um governo de pouco êxito e gastos exagerados, situação agravada por seu sucessor Carlos I.

3.3.: Carlos I (1600-1649) e o início da Revolução:

Carlos I, sucedendo a seu pai Jaime I, estava deslumbrado com o novo reino da Inglaterra (considerando que a Escócia era paupérrima).

Adotou uma política de gastos suntuários, a qual rapidamente se tornou impopular entre seus súditos.

Persistindo em sua busca por recursos para financiar seu governo e ampliar seu domínio sobre as atividades produtivas, Carlos I implementou medidas controversas, incluindo: empréstimos forçados (exigência de dinheiro feita pelos monarcas aos seus súditos, muitas vezes os mais ricos, sem a aprovação do Parlamento), prisão daqueles que não cumpriam as determinações fiscais do rei e a cobrança do “ship money“. Esta era uma antiga taxa medieval em desuso, que permitia ao monarca taxar as cidades litorâneas para construir navios de guerra em tempos de risco militar.

Em 1628, diante da ganância de Carlos I por recursos financeiros, membros do parlamento exigiram que o rei assinasse a Petição de Direitos, que impedia a coroa de recolher impostos sem a aprovação do Parlamento. Carlos, por sua vez, dissolveu o parlamento e reinou de forma absoluta por 11 anos, durante os quais o parlamento não voltou a se reunir.

Essas medidas levaram a uma crise na Inglaterra, que estoura finalmente em 1640. Aqui, o país se encontrava com o tesouro real vazio e em meio a um conflito com a Escócia, pois Carlos I tentou impor o Anglicanismo aos calvinistas escoceses.

Imagem ilustrativa do Parlamento Britânico no século XVII (1640).

Revolução Puritana (1642-1649)

Como visto, os Stuart buscavam evitar os consensos com o Parlamento, reivindicando a soberania do rei. Isso desencadeou um atrito crescente entre os representantes do Parlamento e o Rei, culminando numa guerra na década de 1640.

Após uma ausência de 11 anos, o parlamento foi finalmente convocado em 1640, visto que a monarquia necessitava do apoio parlamentar para obter mais recursos financeiros.

Devido à falta de apoio, o parlamento foi dissolvido em questão de semanas, ficando conhecido como o Curto Parlamento. Poucos meses depois, um novo parlamento foi convocado e permaneceu em sessão por um período prolongado, sendo chamado de Longo Parlamento.

Quando o rei solicitou ajuda financeira aos Comuns, ela foi negada pelo parlamento. Em 1642, Carlos não estava mais disposto a negociar e decidiu atacar, resultando na prisão de membros da oposição no Parlamento. Posteriormente, se retirou para Oxford e estabeleceu ali sua sede militar, preparando-se para uma guerra civil.

Em resposta às prisões e à arbitrariedade, o Parlamento liderou a Guerra contra o Rei, também conhecida como a Guerra Civil ou a Revolução Puritana, que opôs os Cavaleiros (partidários do rei) e os Cabeças Redondas (soldados leais ao parlamento).

O exército parlamentar, após várias derrotas, foi reestruturado por Oliver Cromwell, que estabeleceu o Novo Exército Modelo. Neste exército, a hierarquia não era mais baseada no nascimento, mas sim no mérito.

Ao término do conflito, o Rei Carlos I foi derrotado e executado em 1649, resultando na Proclamação da República, liderada pelo puritano Cromwell.

Rei Carlos I decapitado. Autor desconhecido.

República Puritana ou Commonwealth (1649-1660)

Oliver Cromwell tornou-se o líder da República britânica. Estava no auge de sua popularidade, e ganhou tal notoriedade por ter sido membro do Parlamento e o organizador do Novo Exército Modelo.

O Novo Exército era composto por uma diversidade de interesses, incluindo membros mais pobres que lutavam contra os grandes senhores, a burguesia que desejava proteger suas propriedades e setores religiosos que buscavam preservar-se do anglicanismo.

Todos compartilhavam o objetivo de derrotar o absolutismo monárquico de Carlos I, que buscava restituir e ampliar tributos federais, além de restabelecer práticas monopolistas que prejudicavam o desenvolvimento desejado pela burguesia.

Durante a República, importantes medidas foram adotadas, incluindo o confisco das terras da Igreja Anglicana e a abolição de resquícios das obrigações feudais dos camponeses.

No entanto, dois aspectos se destacam e definiram as características da República: politicamente, Cromwell assumiu uma postura autoritária, autonomeando-se Lorde Protetor da Inglaterra e tomando decisões difíceis, como o conflito com a Irlanda, onde estabeleceu uma área de colonização protestante; economicamente, foi decretado o Ato de Navegação (1651), que determinava que nenhuma mercadoria poderia entrar ou sair da Inglaterra se não fosse em navios ingleses ou do país de origem do produto, impulsionando assim a indústria naval. Isso afetava especialmente os mercadores dos Países Baixos, principais rivais dos comerciantes britânicos.

A morte de Cromwell em 1658 levou ao governo de seu filho, Ricardo, que carecia da mesma sensibilidade política e popularidade de seu pai, sendo posteriormente deposto em 1660.

Restauração Monárquica e a Revolução Gloriosa (1688)​

Temendo novos conflitos em meio ao governo impopular de Ricardo, o Parlamento restaurou a monarquia, convidando o filho do decapitado Carlos I para assumir o trono. Durante esse período, o Parlamento fortaleceu-se cada vez mais, culminando na instituição do habeas corpus em 1679, garantindo assim as liberdades individuais no país.

Com a morte de Carlos II (1630-1685), Jaime II (1633-1701) assumiu o trono. Seu reinado foi marcado por sua conversão ao catolicismo, além de contar com conselheiros com vínculos com o absolutismo francês.

Preocupados com o risco de uma guinada absolutista ou com o surgimento de reivindicações populares, os aristocratas ingleses organizam uma firme oposição política que resultou na abdicação de Jaime II em favor de seu genro, Guilherme de Orange.

Guilherme e Maria de Orange assumiram o poder, comprometendo-se a respeitar o Parlamento. Essa transição ficou conhecida como Revolução Gloriosa, pois ocorreu sem derramamento de sangue. Instituiu-se um modelo político no qual o rei deveria respeitar os direitos essenciais, expressos pela Carta de Direitos de 1668 (Bill of Rights), estabelecendo assim a Monarquia Parlamentarista e Constitucional.

A Bill of Rights garantiu a soberania do Parlamento sobre o Rei, encerrando definitivamente a experiência absolutista na Inglaterra.

Conclusão

A Revolução Inglesa foi uma das primeiras manifestações da crise do antigo regime. Marcada pela decapitação de um rei e pela violência da guerra civil, culminou na destituição dos poderes absolutos da monarquia e na instauração do regime parlamentarista. Esse processo criou as condições essenciais para o desenvolvimento do capitalismo e da Revolução Industrial, sendo considerada a primeira revolução burguesa da História e antecipando em mais de cem anos algumas conquistas associadas à Revolução Francesa.

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