Resumo: Esta é uma proposta de aula que analisa e discute um trecho da HQ (quadrinho) Tintim no Congo, publicado em 1931 pelo escritor e desenhista belga Hergé. Trata-se de um material bem bacana para aulas de Imperialismo, conteúdo normalmente previsto para os oitavos anos dos Anos Finais, bem como no Ensino Médio.
Habilidades: EF08HI23, EF08HI24, EM13CHS102, EM13CHS204
No currículo da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, a presente proposta é adequada para desenvolver a habilidade #EF08HI23 do oitavo ano do Ensino Fundamental, que versa sobre o Imperialismo. Utilizamos aqui uma história em quadrinhos enquanto documento histórico, e buscamos uma reflexão sobre o papel da obra nos dias atuais.
Basicamente, o quadrinho descreve as histórias do repórter europeu Tintim e de seu cachorro Milu no continente africano, local em que conhecem os súditos do monarca Babaoro’m. Ao longo da história, Tintim busca conquistar a confiança dos habitantes locais e acaba se envolvendo no combate a uma gangue interessada na exploração de diamantes da região.
No entanto, o aspecto mais interessante para a sala de aula é sua análise enquanto objeto histórico. Afinal, essa obra exemplifica de forma contundente a difusão de uma imagem notoriamente preconceituosa, racista e colonialista que os Europeus tinham sobre a África no início do século passado.
Você pode aplicar essa atividade após uma aula introdutória e expositiva sobre Imperialismo e as Teorias Raciais do Século XIX. Se desejar ser um pouco mais audacioso, pode até utilizá-la como uma introdução à matéria, antes de abordar os aspectos mais expositivos e os conceitos formais relacionados à temática.
No meu caso, eu preferia a primeira opção e a executava da seguinte maneira: distribuía cópias das páginas selecionadas para os alunos e solicitava que as lessem, (em duplas, o que significa economia de impressão). Em seguida, promovia uma conversa sobre as impressões gerais da obra e a experiência de leitura. Nesse momento, era interessante direcionar o debate para a questão do racismo evidente e para possíveis características racistas que os alunos provavelmente tenham percebido, mas enfrentado dificuldades para identificar explicitamente. Isso pode incluir a caracterização gráfica dos personagens africanos, a representação excessivamente ingênua e infantil desses personagens, a dificuldade deles com a língua falada, a maneira “tosca” com que adotam as vestimentas e indumentárias europeias… E sem esquecer do próprio monarca Babaoro’m! Realmente, retratar um monarca africano segurando um rolo de macarrão como se fosse um cetro é incrivelmente violento e colonialista, ou melhor, perturbador.
Encerrado o debate, eu distribuía um segundo material que abordava uma controvérsia relacionada à obra. No primeiro texto, apresentava-se a opinião do escritor congolês Bienvenu Mboto Mondondo, que critica vigorosamente a disseminação da obra e sugere a inclusão de uma ‘contextualização histórica’ nas futuras edições. Já o segundo texto trazia as observações de Hergé sobre a temática, onde ele tenta se justificar ao associar os excessos aos pensamentos predominantes na época.
Por minha experiência, a leitura desses textos já era o bastante para provocar alguma reação dos alunos e construir um diálogo em sala, mesmo que breve. Caso fosse uma sala mais tímida ou quietinha, também era possível apostar mais alto e provocá-los um pouco mais com perguntas do tipo “Na opinião de vocês, esse livro deveria ser proibido ou não?”, ou ainda, “vocês gostariam que o filho de vocês lesse quadrinhos assim?”. Questões bem contundentes mesmo, que os coloquem pessoalmente diante de algum dilema sobre o viés negativamente pedagógico das representações racistas presentes na leitura.
E, ah, não se frustre se eles não se o interesse da sala for abaixo do esperado, especialmente quando pensamos em quanto tempo investimos nessas aulas. A escola é sufocante para todos, e há um oceano inteiro de variáveis envolvidas no êxito ou fracasso de uma aula em específico. Timidez dos alunos, ódio irrefletido ao sistema escolar e que acaba direcionado às proposições pedagógicas, dias difíceis, tensões internas entre eles… Enfim, seres humanos num sistema escolar bastante questionável. Caso o debate não renda, deixe pra lá e – sugiro que – pule direto para os exercícios propostos, solicitando sua entrega no final da aula. Às vezes, algumas turmas se saem melhor ao manifestar opiniões pela discrição da palavra escrita do que pela exposição que uma afirmação em voz alta suscita.
É isso, pessoal. Espero que a proposta tenha ajudado. Fiquem à vontade para comentar sobre sua experiência e compartilhar outras sugestões possíveis sobre a temática, ok? Valeu!