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Guerra Civil Espanhola – História do Barcelona e do Real Madrid​

Resumo: Texto que entrelaça a história do Barcelona e do Real Madrid à Guerra Civil Espanhola. Foi pensada para ser lida com alunos do 9º ano, seja em sala, como lição de casa ou como preparação para um seminário. Foi baseado nos capítulos iniciais da obra de Sid Lowe “Fear and Loathing in La Liga: Barcelona vs Real Madrid”.

Guerra Civil Espanhola - História do Barcelona e do Real Madrid

  • Introdução

A rivalidade entre Barcelona e Real Madrid é uma das mais eletrizantes em todo o futebol. Estamos falando de Messi contra Cristiano Ronaldo; de Neymar e Vini Júnior; Ronaldinho Gaúcho contra Beckham. Se não bastasse, são camisas marcadas por personagens como Guardiola, Zidane, Ronaldo, Roberto Carlos, Modric… A lista é imensa, e tampouco se encerra no futebol masculino. Entre as mulheres, nomes como Jenni Hermoso e Aitana Bonmatí do Barça, ou Ivana Andrés do Real, foram Campeãs do Mundo na Copa de 2023.

A rivalidade entre Real Madrid e Barcelona é tamanha que vai além das quatro linhas do futebol. Ambos os clubes estão ligados a um dos maiores conflitos do século XX: A Guerra Civil Espanhola. Esse episódio resultou na mais duradoura ditadura espanhola, e contou com participação da Alemanha Nazista, da Itália Fascista e da União Soviética. Foi nesse contexto que, além de clubes, Real Madrid e Barcelona se tornaram símbolos de ideologias bem diferentes, como você conhecerá nesta aula.

  • O que foi a Guerra Civil Espanhola?

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi um violento conflito que dividiu o país ibérico em dois lados: nacionalistas e republicanos. Os primeiros eram compostos por boa parte do exército espanhol, pelos altos membros da Igreja Católica e pelos setores conservadores da sociedade, apoiados internacionalmente por Hitler e pela Itália Fascista. Seu líder era Francisco Franco, general do exército espanhol.

Já entre os Republicanos estavam os defensores da democracia, junto com os militantes da esquerda, voluntários internacionais e, internacionalmente, tinham apoio da União Soviética.

Quanto aos países ocidentais, como França, Inglaterra e Estados Unidos, eles optaram pela “não-intervenção”. Hoje em dia, esse posicionamento é muito criticado por ter favorecido a ascensão de mais um líder fascista na Europa do período.

A Guerra teve início com uma tentativa de golpe militar pelos nacionalistas em 17 de julho de 1936. Generais do exército começaram sua marcha para derrubar o governo da Frente Popular, aliança de partidos de esquerda eleita democraticamente naquele ano.

Em reação ao golpe, o governo, sindicatos e seus apoiadores pegam em armas e preparam a resistência armada. O país ficou dividido pela guerra.

No início, tanto a cidade de Madrid como Barcelona permaneceram fiéis ao governo. Inclusive, Barcelona se transformou numa espécie de cidade-símbolo da luta contra o golpe. O escritor George Orwell descreveu-a como uma cidade em que os trabalhadores estavam no comando, na qual “cada parede estava rabiscada com o martelo e a foice”.

Advogada e deputada radical socialista Victoria Kent (centro) com tropas republicanas (leais) atrás de uma barricada durante a Guerra Civil Espanhola, 1936-1939. Fonte: Portal Socialistworkers.
  •  Barcelona, Real Madrid e a Guerra Civil

Certo, mas e o Barcelona e o Real Madrid em meio a isso tudo? Na época, embora já estivessem ativos no futebol, os dois clubes não tinham a dimensão mundial que têm atualmente.  E ambos sofreram muito com a Guerra Civil, como você verá.

No caso do Barça, seu presidente era Josep Sunyol, um apoiador do governo republicano. Era um dirigente apaixonado, com uma visão idealista sobre o futebol, pois defendia que esporte e cidadania deveriam caminhar juntos. Nesta linha, queria que o Barcelona se tornasse um símbolo de “civilidade, nacionalismo catão, liberalismo, democracia e generosidade”.

Vale a pena abrir um parêntese aqui sobre o “Nacionalismo Catalão”. A Espanha é um país que abriga algumas minorias nacionais em seu território, como os bascos e os catalães.

São populações que têm sua própria língua, sua identidade e tradições. Também têm movimentos separatistas, isto é, que desejam um país separado da Espanha.

Barcelona situa-se na Catalunha e, durante a Guerra Civil Espanhola, ficou em maioria ao lado dos republicanos por estes garantirem maior autonomia para os catalães.

Devido a suas ideias, não demorou para que o Barcelona e seu presidente se transformassem em inimigos dos nacionalistas. O general Franco, líder do movimento, classificou Sunyol como um “comunista separatista” que defendia ideias “anti-Espanha”. Ficava claro que sua visão sobre o esporte era inaceitável para o pensamento centralizador dos nacionalistas.

E a torcida do Barça, o que achava disso tudo? Bem, como eram catalães e simpatizantes da República em maioria, eles abraçaram a luta defendida pelo presidente do clube. Num esforço de tornar o clube ainda mais antifascista, o Barcelona acabou “coletivizado” em 1936, isto é, passou a ser controlado totalmente por trabalhadores.

Apesar de rival, o Real Madrid tomava um posicionamento parecido, já que a capital espanhola também se posicionou contra o golpe nacionalista. Ali, os trabalhadores pegaram em armas e os sindicatos se prepararam para combater o golpe nacionalista.

Josep Sunyol (com o cigarro na boca), então presidente do Barcelona. Foto extraída do site oficial do clube.
  • O trágico assassinato do presidente do Barcelona

As ideias de Sunyol custaram caro para o então presidente. Em 06 de agosto de 1936, enquanto viajava de Barcelona para Madrid, ele foi executado por soldados ligados a Franco.

O assassinato aconteceu graças a um engano, já que o motorista do carro não percebeu que saía dos territórios republicanos e entrava em área inimiga. Essa situação foi resultado da própria dinâmica da guerra, que mudava as frentes de batalha a todo o momento.

O desaparecimento do presidente foi um impacto para os esportistas da época. Tanto os torcedores do Barça como os da capital espanhola prestaram suas homenagens. Os jogadores chegam mesmo a criar um batalhão com o nome de Sunyol para lutar contra os nacionalistas na Guerra Civil.

 

  •  Santiago Bernabéu e a vitória do general Franco

As tropas lideradas por Franco ganharam território nos anos seguintes. O apoio aéreo dos nazistas foi fundamental, realizando bombardeios mortais contra os republicanos. Um dos episódios mais famosos desses ataques foi a destruição da vila de Guernica, eternizado pelas pinceladas de Pablo Picasso.

A própria sede do Barcelona foi atacada por aviões italianos, levando os funcionários do clube a resgatar troféus e documentos nos escombros.

Com o crescimento da violência, o Barcelona resolveu ir ao México disputar amistosos com os times locais. Na época, o México era um dos únicos países a apoiar abertamente os republicanos, sendo que o Barcelona foi recebido com grande festa pelos locais. Para os jogadores, foi uma oportunidade de fugir dos ataques e pedir asilo. Dos vinte embarcados, só nove retornaram para a Espanha.

Em janeiro de 1939, as tropas de Franco finalmente conquistam Barcelona, encontrando uma população exausta pela guerra. A energia de união entre os trabalhadores, narrada por Orwell, já não existia; milhares fugiram para a França ou morreram em combate. Os que permaneceram na cidade, saudaram melancolicamente os novos comandantes.

Aqui, novamente a história da guerra se entrelaçou com a rivalidade entre Real e Barça. Afinal, entre os soldados que tomaram Barcelona estava ninguém menos que Santiago Bernabéu.

Este nome talvez soe familiar para você, até porque é o mesmo do atual estádio do Real Madrid. Se durante a Guerra Santiago Bernabéu era apenas um soldado nacionalista, quatro anos após a tomada de Barcelona, ele se tornaria o mais celebrado presidente do Real.

Para o jornalista Sid Lowe, Josep Sunyol personificou o Barcelona através da sua defesa de liberdade, pluralidade e democracia. Já Santiago Bernabéu fez com que o Real Madrid ficasse associado historicamente ao franquismo. São representações que perduram até hoje nas torcidas.

Santiago Bernabéu, já na época de presidente do Real. Fonte: Wikicommons.
  • O Governo de Franco e o El Clásico

Apesar de inicialmente ser contrário ao golpe dos nacionalistas, mais tarde, o Real Madrid se tornou um símbolo da ditadura de Franco. Essa mudança foi influenciada principalmente pela afinidade do presidente Santiago Bernabéu com o franquismo. O apoio do governo também se solidificou devido à ligação do rival Barcelona com a identidade catalã e a causa republicana.

A história do apoio de Franco ao Real Madrid é marcada por episódios polêmicos, como o favorecimento ao clube na contratação de Di Stéfano e o apoio governamental na construção do estádio atual do clube. Durante a ditadura de Franco, o Real Madrid ascendeu como uma potência esportiva e alcançou enorme sucesso, enquanto o Barcelona estava sujeito a constante vigilância e tinha seus presidentes escolhidos pelo regime franquista.

Portanto, a rivalidade entre Real e Barça ultrapassa o aspecto esportivo, refletindo os ecos da Guerra Civil em suas glórias e personagens. Esse componente histórico confere drama e significado único às partidas do El Clásico, disputa que consagrou as carreiras de astros como Messi e Cristiano Ronaldo.

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