Materiais de História

Escravidão e o Tráfico Negreiro – Documentos e atividades prontas

Resumo: Texto e atividades com documentos históricos sobre o Tráfico de Escravos no século XIX. Pronta para impressão e uso num curso de História do Brasil.

Habilidades: (EF07HI16) Analisar os mecanismos e as dinâmicas de comércio de escravizados em suas diferentes fases, identificando os agentes responsáveis pelo tráfico e as regiões e zonas africanas de procedência dos escravizados.

(EF08HI19) Formular questionamentos sobre o legado da escravidão nas Américas, com base na seleção e consulta de fontes de diferentes naturezas.

(EF08HI22) Discutir o papel das culturas letradas, não letradas e das artes na produção das identidades no Brasil do século XIX.

Escravidão Negra: origens e o tráfico de escravos.

Introdução – Escravidão: Um lucrativo negócio

Dicky Sam, apelido de um escritor de Liverpool descreveu assim o navio negreiro: “O capitão brutaliza os homens, os homens torturam os escravos, o coração dos escravos se afoga em desespero”.

O navio negreiro foi uma peça fundamental para a acumulação de riquezas em nossa história. Ajudou a tomar terras e a expropriar milhares de pessoas.

O barco era uma prisão; As mortes faziam parte de um negócio que, se tudo corresse bem, podia garantir aos traficantes um lucro de 100%. Estimativas de um governador americano do estado da Virgínia eram ainda maiores: o lucro com o tráfico de escravos variava de 600% a 1.200%. O destino mais lucrativo para os negreiros era o Brasil.

Portanto, não é por menos que o Brasil foi o campeão mundial da escravidão moderna, a dolorosa base de construção de nossa sociedade. Na véspera da Independência, em 1820, dois terços da população eram de escravos; de 1790 a 1830, o comércio de escravos representava dois terços de todas as importações brasileiras. Só nesse período, desembarcaram no Rio 700 mil africanos. O Rio de Janeiro foi a maior cidade escravista do mundo desde a Roma antiga.

Trecho do diário escrito pelo ex-escravo Mohammed Garbo Baquaqua, de 1854.

“Seus horrores, ah! Quem pode descrever? Ninguém pode retratar seus horrores tão fielmente como o pobre desventurado, o miserável desgraçado que tenha ali sido confinado. (…) Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens amontoados de um lado e as mulheres do outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar em pé, éramos obrigados a nos agachar ou a sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos. Ficamos desesperados com o sofrimento e com o cansaço.

Oh! A repugnância e a imundície daquele lugar horrível nunca serão apagadas de minha memória. Não. Meu coração até hoje adoece em pensar nisto.

A única comida que tínhamos durante a viagem foi milho velho cozido. Não posso dizer quanto tempo ficamos confinados assim, mas pareceu ser muito tempo. Sofríamos muito por falta d’água, que nos era negada na medida de nossas necessidades. Um quartilho por dia era tudo que nos permitiam e nada mais. Muitos escravos morreram no percurso. Houve um pobre companheiro que ficou tão desesperado pela sede que tentou apanhar a faca do homem que nos trazia água. Foi levado ao convés e eu nunca mais soube o que lhe aconteceu.

Quando qualquer um de nós se tornava rebelde, sua carne era cortada por uma faca e o corte esfregado com pimenta e vinagre para torná-lo pacífico (!). Como demais, fiquei muito mareado de início, mas nosso sofrimento não causou preocupação alguma aos nossos brutais donos. Nosso sofrimento era somente da nossa conta”.

Exercícios e Atividades

1) Explique, com suas palavras, os motivos que levaram a colônia brasileira a utilizar a mão de obra escrava e negra ao invés da mão de obra escrava indígena ou a assalariada.

2) Após ler o relato de Baquaqua sobre a travessia do atlântico num navio negreiro com o quadro “Navio Negreiro”, observe o quadro “Navio Negreiro”, do pintor alemão Johann Rugendas. Exemplifique diferenças e semelhanças entre as duas descrições. Observe a relação dos escravos com os homens brancos, o espaço disponível no navio, a disposição dos homens e mulheres e no que mais que você perceber.

"Negres a fond de calle" ("Navio negreiro") de Johann Moritz Rugendas, de 1830.
"Negres a fond de calle" ("Navio negreiro") de Johann Moritz Rugendas, de 1830.

3) Leia atentamente os parágrafos abaixo, extraídos de diários e discursos feitos no século XIX. Em seguida, responda ao que se pede.

  • I) “Os estrangeiros das outras nações vêm para o Brasil arrastados pela necessidade de enriquecer. Já os africanos vêm porque seus bárbaros compatriotas os vendem (…) Nós damos a admissão à nossa família como compensação dos males que lhes temos feito. Nós não somos hoje culpados pelo comércio de negros; recebemos os escravos que pagamos, tiramos deles o trabalho que dos homens livres também tiramos, e damo-lhes o sustento e a proteção compatível com eles; está fechado o contrato.” (Maciel da Costa, deputado por Minas Gerais, em discurso na Assembleia Constituinte de 1823).
  • II) “O comércio de escravos é legal (…) pois aos africanos resultam melhoramentos, proveitos e maior felicidade. Primeiro porque estes bárbaros entram no centro do cristianismo e da verdadeira religião, bem que esse não seja o verdadeiro objetivo que mantém o comércio negreiro; Segundo, porque com esse resgate dos negros, evitamos a imensa mortalidade que aqueles miseráveis povos sofriam, principalmente na Guiné, em que também se incluíam os prisioneiros de guerra, pois se não fossem salvos, voltariam a ser alvo dos antigos sacrifícios” (Muniz Barreto, político baiano, em suas memórias escritas em 1817).
  • III) “Oh! Que os indivíduos que são a favor da escravidão, coloquem-se no lugar do escravo no porão barulhento de um navio negreiro, apenas por uma viagem da África à América (…). Se não saírem contrários à escravidão, então não tenho mais nada a dizer a favor da abolição. Caso não mudem seus sentimentos sobre o assunto, deixe-nos prosseguir e cumprir seu tempo trabalhando em um campo de algodão, arroz, ou outra plantação. Se não disseram pare, baste! acho que devem ser feitos de ferro, sequer possuindo corações ou alma.” (Mohammed G. Baquaqua, ex-escravo que viveu no Brasil, Estados Unidos e Haiti).

a. O texto I, de Maciel da Costa, é contrário ou a favor do tráfico de escravos? E quais os argumentos do autor para tal posição?
b. O trecho II, de Muniz Barreto, é contrário ou a favor do tráfico de escravos? E quais os argumentos do autor para tal posição?
c. O trecho III, de Baquaqua, é contrário ou a favor do tráfico de escravos? E quais os argumentos do autor para tal posição?
d. Explique, com suas palavras, porque a visão do texto I e II é tão diferente da visão do texto III. Por fim, escreva sua opinião sobre os argumentos.

  1. A utilização da mão de obra escrava africana em vez da mão de obra escrava indígena ou a assalariada no Brasil colonial pode ser explicada por diversos motivos. Primeiramente, e mais importante, a escravidão africana gerava um importante lucro para os colonizadores através do tráfico atlântico. Por sua vez, o trabalho assalariado era difícil pela baixa população de Portugal à época, com poucos trabalhadores disponíveis para vir ao Brasil. Quanto aos povos indígenas, estes sofriam com uma baixa resistência às doenças trazidas pelos portugueses, o que resultou em altas taxas de mortalidade. Além disso, muitos grupos indígenas resistiram à escravidão através de guerras e fugas para o interior do continente, dificultando sua escravização.
  2. O relato de Baquaqua e o quadro “Navio Negreiro” de Johann Rugendas compartilham certas semelhanças, pois destacando ao seu modo o horror e as condições desumanas enfrentadas pelos escravos durante a travessia do Atlântico. Ambos descrevem o confinamento no porão do navio, onde homens e mulheres são amontoados, privados de condições básicas de higiene e alimentação adequada. No entanto, o relato de Baquaqua oferece detalhes específicos e mais brutais sobre a falta de água, a alimentação escassa e as formas de punição física, enquanto o quadro de Rugendas proporciona uma representação visual que pode ser considerada mais branda que as palavras de Bacquaqua.

  3. a. O texto I, de Maciel da Costa, é a favor do tráfico de escravos. O autor argumenta que o comércio de escravos é uma prática aceitável e justificável, pois os escravos recebem sustento e proteção em troca do trabalho que realizam. Ele também sugere que os escravos são admitidos na sociedade como compensação pelos males que supostamente lhes foram causados.

    b. O trecho II, de Muniz Barreto, é a favor do tráfico de escravos. O autor argumenta que o comércio de escravos é legal e traz benefícios aos africanos, como a introdução ao cristianismo e a prevenção da alta mortalidade que ocorreria em suas terras de origem.

    c. O trecho III, de Baquaqua, é contrário ao tráfico de escravos. Baquaqua expressa forte oposição à escravidão, descrevendo vividamente os horrores enfrentados pelos escravos durante a travessia do Atlântico e questionando a humanidade daqueles que apoiam a escravidão.

    d. A visão dos textos I e II é tão diferente da visão do texto III porque os autores dos dois primeiros textos tentam justificar e legitimar o comércio de escravos, argumentando que ele é benéfico para os escravos e para a sociedade em geral. Por outro lado, o texto III apresenta a perspectiva de um ex-escravo que vivenciou os horrores da escravidão e que expressa uma forte oposição à prática.

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