Materiais de História

Atividade – Revolta da Vacina – 9º Ano e EM (pronta para imprimir)

Resumo: Atividade sobre a Revolta da Vacina e as práticas médicas do século XIX e início do século XX. Contém um texto explicativo e exercícios, ideal para aplicação no 9º ano e no Ensino Médio. Pronta para imprimir!

Habilidades BNCC:

(EF09HI02) Caracterizar e compreender os ciclos da história republicana, identificando particularidades da história local e regional até 1954.

(EF09HI05) Identificar os processos de urbanização e modernização da sociedade brasileira e avaliar suas contradições e impactos na região em que vive.

Atividade: Revolta da Vacina e as práticas de curar do século XIX e XX

a) As "bichas" e a Medicina

Observe os anúncios abaixo, extraídos de jornais do século XIX:

Anúncio de sanguessugas em jornal do século XIX
Anúncio de sanguessugas em jornal do século XIX

Elas são úmidas, gosmentas e ao longo da história foram temidas, odiadas e amadas pela humanidade. Mas não importa o quanto avancemos tecnologicamente, ainda não surgiu nada para substituir o seu uso.

Sanguessugas são animais hermafroditas com 32 cérebros, nove pares de testículos e uma mandíbula com três filas de cem dentes cada uma. E sempre foram e são essenciais para a medicina.

“No século 19 a popularidade desses animais alcançou o ponto máixo”, conta Christopher Frayling, professor de História Cultural no Royal College of Art de Londres.

“Entre 1825 e 1850 as sanguessugas eram usadas para praticamente tudo. Você podia até ir a uma farmácia e alugar uma sanguessuga – algo que hoje em dia nos parece uma ideia completamente nojenta”, afirma.

Nesta época as pessoas iam a farmácias, pagavam uma boa quantidade de dinheiro e levavam um desses animais para uso no conforto do lar. No Brasil as sanguessugas eram normalmente comercializadas por barbeiros de lanceta, os quais frequentemente faziam as aplicações e realizavam as sangrias. Com o desenvolvimento da medicina, durante o século XX, e a profissionalização dos médicos, os barbeiros de lanceta foram sumindo, assim como a utilização de sanguessugas em tratamentos de saúde.

Quadro de Jean Debret: "Barbeiro negro aplicando Ventosas"
Quadro de Jean Debret: "Barbeiro negro aplicando Ventosas"

Entretanto, a “moderna medicina” gerava desconfiança entre os que preferiam o tratamento pelos curandeiros, místicos, barbeiros e até mesmo pelo tabaco, tido como remédio para alguns males. Tal desconfiança contribuiu inclusive para o início de uma grande Revolta no Rio de Janeiro, em 1905, a chamada Revolta da Vacina. Mas antes, veremos como era o Rio de Janeiro deste período e os acontecimentos de tais revoltas.

b) O Rio de Janeiro do Século XIX e sua má fama

Hoje o Rio de Janeiro é famoso pelo belo nome de “Cidade Maravilhosa”, mas seu passado esconde apelidos muito menos bonitos. “Porto sujo” e “Cidade da Morte” eram os nomes que os estrangeiros usavam para se referir à capital fluminense. Muitos navios inclusive evitavam o Rio por medo. Em um episódio dramático, em 1895, 333 marinheiros do navio italiano Lombardia, que tinha 340 tripulantes, contraíram febre amarela, e 234 morreram. Com uma população de mais de 800 mil habitantes, a cidade era constantemente vitimada por surtos de febre amarela, varíola, peste bubônica, malária, tifo e tuberculose.

Na tentativa de pôr fim a esse triste quadro, o presidente Rodrigues Alves convocou o médico sanitarista Oswaldo Cruz, que, de imediato, pôs em marcha um ambicioso plano de saneamento e higienização da cidade, o que levou a grande revolta em 1905. Veremos agora quais eram estas medidas.

c) Oswaldo Cruz, as Reformas Sanitárias e a Vacinação Obrigatória

Em suas primeiras medidas, a prefeitura promoveu uma declarada guerra aos ratos na cidade. E chegou a comprar os animais mortos de quem se dispusesse a caçá-los. Aproveitadores e oportunistas não demoraram a entrar em ação: muitos chegaram a fabricar ratos de papelão e cera para vender. Há relatos também de que moradores partiam de outras cidades para vender ratos no Rio. Além deles, havia os habituais esquadrões municipais, sempre violentos, que invadiam cortiços, sobrados e casas de cômodos com a finalidade de exterminar aquela praga urbana. Entretanto, a simples iniciativa tirou de circulação mais de 1,6 milhão desses animais entre 1903 a 1907, diminuindo os casos de peste bubônica.

“Caça aos Ratos”, caricatura de J. Carlos, década de 1900.
“Caça aos Ratos”, caricatura de J. Carlos, década de 1900.

Para o combate da febre amarela, organizou-se uma grande equipe de “mata-mosquitos”, incumbida de perseguir os insetos nos lugares mais escondidos do Rio de Janeiro. Os funcionários tinham o poder de invadir as casas e quebrar a inviolabilidade dos lares cariocas, irritando a população.

d) A Revolta da Vacina

No entanto, a medida sanitária mais polêmica foi tornar obrigatória a vacinação contra varíola, o que descontentou grande parte da população. A vacinação era garantida pela força: a apresentação dos comprovantes de vacinação passaria a ser condição para matrículas em escolas, admissões em empresas e oficinas, casamentos e outras tantas atividades, de maneira que a vida daquele que se recusasse a ser vacinado ficaria impossível.

Ademais, o governo se esforçava ao máximo para realizar a vacinação: os agentes de saúde invadiam as residências com a polícia e aplicavam à força a vacina na população. Muitos resistiam a ter suas roupas arrancadas para aplicação da seringa, afinal, não era comum ter de ficar seminu com um estranho. Mas o principal motivo da resistência era o desconhecimento e a desinformação sobre ela.

Na época, muitas pessoas preferiam formas alternativas de cura existentes além da medicina e da vacinação. Somado a isso, o governo nunca fez uma efetiva explicação ou população do que era uma vacina, abrindo espaço para muitos boatos a respeito desta prática. Somado à falta de informação, a violência e o autoritarismo dos métodos do governo causaram diversos protestos no Rio de Janeiro, iniciando a “Revolta da Vacina”.

Os confrontos em pouco tempo se generalizaram, opondo a população e as forças policiais. A cavalaria policial tentava a todo custo conter a insatisfação dos revoltados, enquanto a massa popular não parava de crescer. Em poucos dias, os conflitos atingiam diversos bairros pela cidade. Barricadas eram erguidas na tentativa de conter as investidas da polícia. Muitas ruas tiveram seus calçamentos transformados em munição pelos populares que, escondidos por detrás dos bondes, atingiam como podiam as forças policiais.

Bonde virado na Praça da República, no Rio de Janeiro, durante a Revolta da Vacina (Wikimedia Commons)
Bonde virado na Praça da República, no Rio de Janeiro, durante a Revolta da Vacina (Wikimedia Commons)

Conclusão - Revolta da Vacina

Essa revolta, mais do que uma rejeição ao novo e à vacina em si, simbolizava a resistência da população contra o autoritarismo do governo e sua falta de diálogo. Também era uma revolta contra a invasão truculenta de suas casas, situação tornada mais dramática porque as pessoas acreditavam em supostas outras opções de cura disponíveis na época, como as sanguessugas. Em uma época que poucos participavam da política o acesso à informação era limitado, a população resistia àquilo que lhe fosse estranho ou imposto, mesmo que supostamente pelo “bem da nação”.

Adaptado de: BIAS, M. Passado a limpo. Texto publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional. www.revistadehistoria.com.br.

Adaptado de: https://www.bbc.com/portuguese/geral-37084888

Exercícios

1. Vamos analisar um documento histórico! Para tal, observe a charge abaixo, publicada na revista o Malho, em 29 de outubro de 1904. Sobre ela, responda o que se pede.

Charge sobre a Revolta da Vacina publicada na revista o Malho, em 29 de outubro de 1904.

a) O que está acontecendo na imagem?
b) Como os cavalos da polícia foram representados? Por que os cavalos foram desenhados assim?
c) A charge faz parte de uma revista de humor. Como o humor está sendo usado aqui para criticar a situação? Que aspectos da vacinação e da política do início do século XX estão sendo ironizados?

2. A Medicina sempre foi vista como a única forma de “curar” alguém? Explique.
3. Como o Rio de Janeiro era visto no final do século XIX e início do século XX?
4. Quais foram as medidas adotadas por Oswaldo Cruz? Elas funcionaram?
5. Explique os principais motivos que levaram a população a se rebelar contra a vacinação obrigatória.
6. Em sua opinião, é correto afirmar que a Revolta da Vacina foi uma “revolta contra o progresso”? Explique.

Respostas dos Exercícios - Revolta da Vacina

1. a) A imagem mostra a Revolta da Vacina, com policiais tentando controlar a população que resiste à vacinação obrigatória. Há caos nas ruas, com pessoas em confronto com a polícia.

b) Os cavalos foram desenhados como seringas da vacinação, numa alusão à imposição da vacinação através da força e da truculência policial. Foi uma maneira que o chargista encontrou para associar à força policial ao exercício de vacinação da população, utilizando-se do humor para tal.

c) O humor está sendo usado para mostrar a brutalidade com que a vacinação foi imposta. A charge ironiza o uso da força policial e o autoritarismo do governo, destacando a falta de diálogo com a população e o tratamento da vacina como algo obrigatório, sem explicar adequadamente o que ela era.

2) Não, nem sempre a medicina foi vista como a única forma de cura. Durante muitos séculos, as pessoas também acreditavam em curandeiros, práticas místicas e até o uso de tabaco e sanguessugas. No início do século XX, por exemplo, algumas pessoas preferiam esses tratamentos alternativos ao invés da medicina moderna, como mostra a Revolta da Vacina.

3) O Rio de Janeiro era visto como uma cidade suja e perigosa. Era chamado de “Cidade da Morte” por causa das doenças como febre amarela e varíola, que causavam muitas mortes. Navios evitavam parar na cidade por medo de seus tripulantes contraírem doenças.

4) Oswaldo Cruz adotou medidas para combater ratos, mosquitos e obrigar a população a tomar vacina contra varíola. Ele criou equipes para matar os ratos, limpou áreas infestadas por mosquitos e fez campanhas para eliminar pragas. Essas medidas funcionaram, pois ajudaram a diminuir os casos de doenças como peste bubônica e febre amarela, apesar da resistência da população.

5) A população se rebelou principalmente porque não entendia o que era a vacina e como ela funcionava. Além disso, as ações do governo eram vistas como autoritárias, já que os agentes de saúde invadiam as casas e forçavam as pessoas a tomar a vacina. Muitas pessoas também preferiam tratamentos alternativos e sentiam que sua privacidade estava sendo violada.

6) Resposta pessoa. Aqui, seria interessante que o aluno argumentasse sobre a resistência popular frente às mudanças e à falta de informação. É importante que ele explore a ideia de que a revolta não foi necessariamente contra o progresso, mas sim contra a maneira como as medidas de progresso foram impostas de forma autoritária e sem diálogo, o que gerou medo e desconfiança.

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